Deputados Bandidos
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Os cidadãos brasileiros estão desanimados com a classe política e
não compreendem a razão desta quantidade de bandidos que mantêm seus
gabinetes no congresso nacional, nas assembléias legislativas e nas câmaras
de vereadores, e sustentam suas quadrilhas com o peso de sua imunidade,
poder parlamentar ou negociatas com o poder econômico. Mas a culpa é sua, é minha e dos nossos pais, não adianta negar,
abstrair e simplesmente colocar-se na posição de vítima. Nas últimas décadas conseguimos fugir das discussões políticas
para nos especializar na arte de levar vantagem, de conseguir um jeitinho
nas questões mais corriqueiras, e cultivar o hábito de ter como amigos
os podres intermediários dos poderes. Não raro os nossos cidadãos se vangloriavam de não pagar multa de
trânsito, de furar fila, de enganar o Imposto de Renda, de possuir
carteira de policial e até de corromper, ou ser corrompido, pelos agentes
públicos de todos os poderes da república. Houve uma época em que estar na moda implicava em ter amigos
generais, freqüentar quartéis e receber informações privilegiadas da
economia, com alguma antecedência, naturalmente. É verdade que políticos bandidos existem e o Brasil inteiro já
conhece uma grande parte deles. Estas notícias, desastrosas e crescentes,
ganham espaço na mídia e geram uma sensação de impotência e descrédito
nas nossas instituições. Mas, saber o que acontece no submundo político, lá no fundo,
realmente, não é motivo de lástima mas sim de grande júbilo. Não que
devêssemos aplaudir o esquartejamento humano com moto-serra, ou a tirania
confessada de autoridades, e muito menos a mega-corrupção que, em democrático
revezamento, ora infestam as páginas políticas e policiais dos nossos
periódicos, mas, sem qualquer dúvida, devemos saudar este grande sinal
dos tempos que anuncia um novo capítulo, mais nobre, reservado à história
do país. É absolutamente certo que estes bandidos sempre existiram e sempre
ocuparam lugar de destaque na política e na administração pública ao
longo dos nossos quase 500 anos, mas, como eram maioria, por certo, não
encontraram cidadãos e políticos honestos com coragem e vontade
suficientes para fazer valer os mais simples princípios de moral e cívica,
por isto reinavam absolutos. Mas, aos poucos a história vem mudando, o nível de saturação
popular chegou a expulsar de seu palácio um presidente da república, e
depois, um a um, alguns falsos moralistas do impeachment, sem falar
nos anões e outros bandidos do Congresso Nacional, das Assembléias
legislativas e muitas Câmaras de Vereadores. Para tristeza dos incompetentes e dos bajuladores inveterados, o
Brasil está recebendo uma réstia de moral e civismo que já ilumina a
cabeça de homens, mulheres, velhos, jovens, pobres, ricos, trabalhadores,
empresários e até de muitos dos políticos profissionais, provocando uma
onda de esperança jamais vista ou imaginada. Isto quer dizer que já existe uma reação popular, tênue, mas
verdadeira, e não pode ser ignorada. Os veículos de comunicação
perderam o medo, criaram seções e repórteres especializados em escândalos
políticos e o resultado, óbvio, é que o espírito de cidadania chegou
para ficar e as denúncias, inquéritos, e processos de cassações,
resultam em uma feliz e próspera realidade. Ora, embora a imprensa não registrasse, é sabido que a corrupção
e os atos de banditismo político foram muito mais violentos e aterradores
nas décadas passadas, e a década de noventa, notoriamente, está fadada
a ser registrada na história como a década da arrancada da cidadania e
da prosperidade. Podemos dar parte deste crédito à energia de seriedade
intransigente com que o governo federal tem dispensado na apuração de
casos desta natureza, pois é certo que, em épocas passadas, embora
viessem à tona alguns escândalos, as nossas autoridades se empenhavam
para que os processos caíssem no esquecimento e a impunidade fosse
preservada. Vencemos algumas batalhas, mas, a vigília deve persistir, e com
cuidado redobrado. É sabido que os compradores de votos voltarão,
patrocinados pelo poder econômico, próprios ou de seus protegidos, com
promessas miraculosas e surpreendentes. Alguns cidadãos, geralmente os mais pobres e os mais idiotas, mais
uma vez, haverão de sucumbir e trocar seu voto por meia dúzia de tijolos
e telhas, ou mesmo de promessa de cargos de gabinete, para depois,
vitimados, lamentar a falta de empregos, escandalizar com o preço da
gasolina e reclamar, freneticamente, frente ao desatendimento dos serviços
públicos de saúde e de educação. Muitos dos eleitores dos bandidos também são bandidos, são cúmplices
que votaram pelo amor à proximidade com o poder, que buscavam a
continuidade da impunidade, com almejavam o recebimento de favores
pessoais e que se venderam por trinta dinheiros e, por isto, deveriam
amargar esta culpa para o resto de suas vidas. Aos cidadãos apenas pobres e idiotas, iludidos pelos deputados bandidos, portanto menos culpados, como última alternativa, ainda restará o recurso postal, ou seja, abraçar o poste e chorar. |
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