Alimentos Transgênicos
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(Fonte:
Cartilha Novas Tecnologias - Procon-PBH) Os alimentos transgênicos são aqueles cujas sementes foram
alteradas com o DNA (material genético localizado no interior das células)
de outro ser vivo (como uma bactéria ou fungo) para funcionarem como
inseticidas naturais ou resistirem a um determinado tipo de herbicida.
Surgiram no início dos anos 80, quando cientistas conseguiram transferir
genes específicos de um ser vivo para outro. A comercialização de transgênicos ainda é polêmica. Empresas,
produtores e cientistas que defendem a nova tecnologia dizem que ela vai
aumentar a produtividade e baratear o preço do produto, além de permitir
a redução dos agrotóxicos utilizados. Os que a atacam, como os
ambientalistas e outra parcela de pesquisadores afirmam que o produto é
perigoso: ainda não se conhece nem os seus efeitos sobre a saúde humana
nem o impacto que pode causar ao meio ambiente. Apesar de proibida a produção destes alimentos no Brasil, nada
garante que o consumidor já não esteja comendo produtos transgênicos
sem saber. Eles podem estar chegando a partir da importação de alimentos
e matérias-primas de países como a Argentina e os Estados Unidos, que já
cultivam e comercializam os transgênicos há alguns anos. Quem Vai
Querer Alimento Transgênico? (Fonte: Publicação
do IDEC/SP) Os alimentos geneticamente modificados estão chegando à mesa dos
consumidores sem que estes saibam bem o que são e que efeitos nocivos
podem ter. No Brasil, embora o plantio ainda esteja proibido, culturas
clandestinas de soja transgênica começam a aparecer no Sul do Pais. É bom que os consumidores se acostumem com a expressão alimento
transgênico, porque ela será cada vez mais falada e escrita. Parece até
nome de uma coisa perigosa, e de fato ninguém tem certeza se será ou não
– nem os técnicos e cientistas que, nos laboratórios das grandes
empresas ligadas à área de alimentos, utilizam a engenharia genética
para modificar plantas e até animais, a fim de torná-los mais
produtivos, ou mais resistentes a inseticidas e herbicidas, ou mais duráveis.
E, mesmo que não se saiba muito bem onde tudo isso vai dar, esses
produtos já estão sendo introduzidos na dieta dos consumidores – os
supostos beneficiários finais ou possíveis vítimas – sem que estes
saibam exatamente o que vão levar para a mesa. No Brasil, quais as indústrias que estão dispostas a utilizar ou a
não utilizar os alimentos transgênicos na composição de seus produtos?
É o que o IDEC está querendo saber para poder informar aos seus
associados e aos consumidores em geral. Para isso, acaba de enviar uma
notificação a todas as indústrias, solicitando que se manifestem a
respeito. Este é o primeiro resultado da campanha nacional sobre
qualidade da alimentação, lançada pelo Fórum Nacional de Entidades
Civis de Defesa do Consumidor, reunido em São Paulo em junho, com
representantes de cerca de 40 organizações de todo o país. Em sua notificação, o IDEC argumenta que organismos geneticamente
modificados (que começam a ser conhecidos pela sigla OMG) estão sendo
introduzidos ilegalmente no Brasil, como acontece no Rio Grande do Sul com
a soja RRS da multinacional Monsanto, na qual a engenharia genética
conseguiu o "prodígio" de torná-la resistente a um herbicida
fabricado pela própria Monsanto. Quer dizer, em plantações originadas
das sementes dessa soja, os agricultores vão poder usar à vontade o tal
herbicida que nada acontecerá aos pés de soja. Poderá acontecer depois
com os consumidores, graças aos resíduos do veneno que ficarão no
alimento. O IDEC informa que essas sementes de soja e também do milho BT,
geneticamente modificado pela Novartis, outra gigante do ramo, já estão
sendo testadas aqui e as duas empresas já solicitaram autorização para
o seu plantio em escala comercial, assim que finalizarem os experimentos. O documento do IDEC solicita informações às indústrias para
saber se estão dispostas a utilizar ingredientes geneticamente
modificados, quais os produtos que recebem soja em sua composição e
quais as medidas que a empresa adotará caso o Brasil importe soja transgênica
dos EUA ou da Argentina. O extermínio do futuro O problema dos alimentos transgênicos foi um dos mais importantes
temas debatidos durante o IV Enedec, o encontro das entidades de defesa do
consumidor realizado em São Paulo em junho e que criou um Fórum
Nacional. Consumi-los ou não consumi-los foi a questão levantada em palestra
pelo professor Sebastião Pinheiro, da Pró-Reitoria de Extensão da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ele criticou aspecto da
"nova ordem internacional e a globalização", que estimulam a
biotecnologia nos campos de cultivo sob a argumentação falsa e
oportunista de que "é melhor correr o risco de contaminar-se e
adoecer do que morrer de fome". Mas os riscos, na sua opinião, são enormes e se mantêm em sigilo.
Pinheiro desfilou uma série de denúncias sobre o que os laboratórios
das grandes transnacionais estão produzindo, sem que se possa ter certeza
do que pode acontecer no futuro. Levantou a questão da soja da Monsanto e
do milho da Novartis, citados na notificação enviada pelo IDEC às indústrias
de alimentos, e apresentou, entre muitos casos para mostrar como é
irresponsável a introdução dessa e de outras tecnologias, sem que se
tenha absoluta segurança do que poderá ocorrer, as seguintes experiências
de resultados calamitosos: - Em El Salvador, na América Central, mais de 35 mil agricultores
foram literalmente castrados por causa dos efeitos sobre eles de um
fumigante utilizado nos bananais chamado Negamon, produzido pela Dow
Chemical. - Defensores do meio ambiente nos Estados
Unidos estão preocupadas com a perspectiva de que salmões transgênicos,
que crescem duas vezes mais rápido do que o normal, escapem do cativeiro
em que foram desenvolvidos e são criados para comercialização e caiam
no ambiente natural, destruindo alimentos e outros peixes; seria uma catástrofe.
- Pior ainda é o caso da Delta &
Pine, que requereu patente mundial de um gene assustador conhecido como terminator.
O objetivo é incorporá-lo às sementes, de modo a que os grãos gerados
pelas plantas oriundas delas sejam estéreis. Assim, o agricultor será
sempre obrigado a comprar sementes de um único fornecedor, a própria
Delta & Pine. A fome entre as antigas ameaças Os alimentos transgênicos foram um dos mais debatidos assuntos do
encontro. Mas antigas e conhecidas mazelas, sobre as quais se pode ter
controle mas continuam a ocorrer, entraram nas discussões e nas denúncias.
Entre elas, os casos de leite pasteurizado contaminado por bactérias,
azeite de oliva fraudado, água mineral com excesso de flúor, alimentos
dietéticos com teor de açúcar acima do permitido por lei, balas
importadas com corantes proibidos. Fraudes como essas têm sido mantidas em segredo e restritas aos
meios acadêmicos e técnicos, de forma a obstruir o acesso público à
informação sobre os riscos que certos alimentos industrializados podem
trazer à saúde. Como se não bastasse, aos numerosos casos de violação dos
direitos do consumidor registrados no Brasil soma-se um mais devastador
ainda – o da fome crônica: este ano, um contingente de 30 milhões de
pessoas foi atingido pela fome no Nordeste, e a seca é apenas o
componente mais dramático dessa situação, que agrava o quadro de miséria
no País. Por isso, a campanha sobre alimentos, lançada durante o encontro,
será, segundo seus articuladores, um amplo movimento nacional pelo
alimento acessível, saudável e nutritivo e já começou dentro do próprio
evento, com as denúncias do que vem acontecendo em várias regiões do país,
feitas por dirigentes de entidades de consumidores presentes ao encontro. Para expor as dificuldades de acesso ao alimento, Silvia Vignola, da
Secretaria de Vigilância Sanitária de São Paulo e membro do Conselho
Diretor do IDEC, recorreu a alguns números ao falar sobre o assunto para
os representantes das organizações presentes. Em todo o mundo – informou – estima-se que cerca de 40 mil
pessoas, na maioria crianças, morram por dia de desnutrição e doenças
associadas à fome. "Mas a fome não ocorre só na África. Está bem
perto; aqui mesmo, no Brasil", disse, lembrando que o governo é
signatário, desde 1996, da carta de intenções que resultou da Cúpula
Mundial de Alimentação, realizada em Roma, que define a alimentação
como um direito fundamental do homem – um direito à vida. Na oportunidade, disse, o Brasil assumiu o compromisso de
"garantir uma conjuntura política, social e econômica propícia,
destinada a criar as melhores condições possíveis para erradicação da
pobreza, que favoreça ao máximo a consecução de uma segurança
alimentar sustentável para todos". Seqüência de fraudes e irregularidades Alinhados com o moderno conceito de segurança alimentar, que
pressupõe o direito fundamental de não padecer de fome e o acesso a
alimentos seguros e nutritivos, esses acordos jamais foram cumpridos. E, hoje, continua-se a questionar a qualidade sanitária dos
alimentos a partir de alguns dados trazidos pelos integrantes do encontro:
- Em outubro de 1997, no tradicional Encontro Nacional de Analistas
de Alimentos, em Manaus, verificou-se que, dos 151 trabalhos apresentados,
42,3% se referiam a avaliações de aspectos sanitários de alimentos. - A aflatoxina no amendoim é um dos
casos de violação dos direitos do consumidor mais conhecidos. Trabalho
realizado em 1996 por vários laboratórios de análises de alimentos em
todo o País e coordenado pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade
em Saúde do Ministério da Saúde constatou que de 8 a 48% dos produtos
derivados de amendoim vendidos no Rio de Janeiro, Brasília e Recife,
estavam contaminados por esse potente agente cancerígeno. (Veja nesta
edição o teste realizado pelo IDEC). - Ao analisar amostras de balas
importadas, técnicos da Fundação Ezequiel Dias, da Secretaria da Saúde
de Minas Gerais, reprovaram 54,5% delas porque continham corantes em
excesso, o que pode provocar reações alérgicas e até mesmo câncer.
Desse total, 38,9% continham corantes proibidos no Brasil. - Ainda em Minas, a Vigilância Sanitária
da Secretaria Municipal de Saúde de Uberlândia constatou que 85% das
amostras de queijo frescal estavam contaminadas por Staphylococcus
aureus, bactéria que produz uma toxina causadora de graves intoxicações.
- O queijo frescal de Goiânia não era
melhor: 62% das 50 amostras do produto comercializado em feiras livres,
analisadas pela Universidade de Goiânia, tinham bactérias passíveis de
causar toxi-infecções alimentares. - Na Bahia, a Vigilância Sanitária
avaliou a qualidade de diversos alimentos que compõem a cesta básica e são
vendidos em supermercados e constatou 11,1% das amostras de leite em pó
tinham excesso de bolor e levedura, em desacordo com a lei, e 41,2% das
amostras de farinha estavam contaminadas acima do limite permitido pelo Bacillus
cereus, uma bactéria que pode causar toxi-infecção alimentar. - A situação na região Sudeste não é
melhor: 36 testes com alimentos realizados pelo IDEC entre 1990 e 1997
revelaram que 23,7% das amostras apresentavam aspectos sanitários
irregulares. Hormônio adoece vacas Mais uma agressão contra os interesses do consumidor. Liberada no
Brasil em 1992 – dois anos antes do que nos EUA, onde estavam em curso
as primeiras pesquisas para avaliar os riscos desta nova tecnologia para o
homem e o meio ambiente –, a somatrotropina bovina recombinante (BSTr),
produzida em larga escala graças à engenharia genética, é um hormônio
sintético que permite aumentar significativamente a produção de leite
de vaca e vem sendo usado no Brasil. Segundo dados oficiais, estima-se que
120 mil vacas foram tratadas com BSTr no ano passado. Ainda que o hormônio possa não afetar diretamente o ser humano, as
incertezas quanto a segurança desta tecnologia persistem: diversos
trabalhos científicos demonstraram que vacas que recebiam BSTr tinham
probabilidade 79% maior de contrair mastites e outras inflamações. O
resultado é o uso mais freqüente de antibióticos, que, por sua vez,
poderia levar a um aumento dos resíduos dessas drogas no leite consumido
pelo homem e a uma maior resistência a bactérias patogênicas como o Staphylococcus
aureus. Nitrofuranos: a luta segue Prescreveu em 25 de maio o prazo dado pelo Ministério da
Agricultura e do Abastecimento para que fosse submetido à consulta pública
o projeto de Portaria que proíbe o uso de nitrofuranos em animais que
produzem alimentos para consumo humano. Os nitrofuranos são substâncias
químicas usadas por veterinários na prevenção e no tratamento de
diversas moléstias causadas por micróbios em aves e suínos, entre
outros animais. Até meados de junho, todavia, ainda não havia sido
definida a retirada desses produtos do mercado nacional. Através da Portaria 89, de 24 de março de 1998, o Ministério da
Agricultura deu prazo de 60 dias para que fossem encaminhados adendos
visando aperfeiçoar a redação do projeto de Portaria que veta a fabricação,
importação e comercialização de produtos de uso veterinário e rações
à base de cloranfenicol, furazolidona e nitrofurazona. O IDEC encaminhou
sugestão, aceita pelo Ministério da Saúde, para estender a proibição
ao Nitrovin, princípio ativo bastante usado no País. O projeto de portaria do Ministério da Agricultura peca por abrir
uma brecha na legislação através da qual esses produtos ainda poderão
entrar no País: em seu artigo 4o, estipula que os produtos poderão ser
tolerados "para emprego exclusivo" em cães, gatos e animais
ornamentais que não produzam alimentos para o homem. Os nitrofuranos foram banidos dos EUA em 1991 e da União Européia
em 1994 por apresentarem risco potencial à saúde do homem, devido às
suas propriedades carcigonênicas. Hoje, estima-se que o Brasil produza e
consuma 13 milhões de toneladas de rações aditivadas com nitrofuranos
por ano, sem que o consumidor tenha conhecimento das técnicas veterinárias
usadas em animais que fornecem carne para seu consumo. |
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